segunda-feira, 27 de abril de 2009

Políticas públicas Brasileiras em Educação Especial e o Projeto Político-Pedagógico da Educação Inclusiva



Trabalho na Escola Estadual de Ensino Fundamental Mário Quintana, na periferia urbana de São Leopoldo. Minha escola abrange a primeira etapa do Ensino Fundamental de oito anos (até 4ª série) e a mesma etapa do Ensino Fundamental de 9 anos (até 5º ano). Temos 230 alunos e 10 professoras docentes.
Nossa escola possui quatro alunos com necessidades educacionais especiais. Um com necessidades físicas, pois tem as perninhas atrofiadas, que está no segundo ano (1ª série). Não usa cadeira de rodas e sim um skate onde senta e se movimenta com muita destreza e rapidez. Uma aluna com laudo de deficiência mental, uma menina e um menino em processo de diagnóstico, também com problemas mentais, todos no 3º ano (ª série).
Nossa escola não tem nenhum tipo de atendimento especializado para estes alunos, pois não possui nenhuma professora com formação em educação especial. Cada professora tenta dar o melhor de si para proporcional um inclusão social destes alunos. A aluna com laudo tem a promoção garantida através da Resolução nº 2 de 2001. Quando os alunos com necessidades especiais têm convênio médico a escola orienta a família para procurar um pediatra que as encaminha ao neurologista. Quando a família não tem condições a escola encaminha para o CRAS, que é uma descentralização do posto de saúde em todas as regiões do município. Lá tem todos os profissionais necessários para diagnóstico e tratamento. O Poder Público Estadual não proporciona nenhum tipo de atendimento a nenhum aluno, inclusive aos portadores de necessidades educacionais especiais..
Confrontando estes dados da minha escola com as leis vigentes é impossível não se decepcionar ou revoltar com os poderes públicos em todas as esferas, que criam as leis, mas não criam condições de serem aplicadas. Na Constituição Federal de 1988 no artigo 208, assim como na lei nº 8069 de 13 de julho de 1990, no Capítulo IV, já era assegurado o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. No Capítulo V da Lei nº 9394 de 20 de dezembro de 1996 (LDB) diz que haverá na escola regular para atender as peculiaridades da clientela da educação especial serviços de apoio especializados. Diz também que os currículos e métodos devem ter uma organização específica para atender estes alunos, assim como professores especializados e professores do ensino regular capacitados para atenderem esta demanda, o que não acontece, pelo menos na maioria das escolas da rede pública estadual.
A Resolução nº 2 de 11 de setembro de 2001 volta a frisar no seu artigo 8º a necessidade de professores especializados e capacitados, a atuação colaborativa do professor especializado com o professor da turma, assim como a disponibilidade de outros recursos de apoio necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação. Salvo raras exceções, as escolas da rede estadual não possuem professores especializados, assim como não é oferecido nenhum tipo de capacitação aos professores do ensino regular. O que nos parece é que o sistema público estadual se viu diante da necessidade de cumprir a lei e abriu as portas das escolas para a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais sem se preocupar com a funcionalidade destas medidas. Não há verbas para adequar as escolas à acessibilidade de alunos portadores de necessidades físicas especiais, assim como não há nenhum investimento na capacitação de professores. Também há muitas escolas sem serviço pedagógico de apoio, na minha escola só há a supervisão escolar, além da direção.
Enfim, mais uma vez nos deparamos com leis ricas em boas intenções para promover a inclusão social e a educação do povo, mas esbarramos nos recursos para cumprimento destas leis. Mais uma vez vimos que a classe dominante deste país coloca idéias ricas e construtivas no papel, mas dificilmente cria recursos para seu cumprimento. É lamentável que a área da educação, base de um povo desenvolvido, seja sempre penalizada pela incompetência administrativa. É importante tomarmos conhecimento destas leis e saber o que é feito e o que o poder público não assume. Como professoras de escolas públicas é importante termos conhecimento do cumprimento ou não das leis, até como forma de justificarmos a falta de atendimento especial de nossos alunos.


REFERÊNCIAS:

Constituição Federal de 1988
Lei nº 8069 de 13 de julho de 1990
Lei nº 9394/96 – LDB
Resolução CNE/CEB nº 02/01
Registros da E. E. E. F. Mário Quintana, São Leopoldo

Estágios do Desenvolvimento:

1º Estágio: Sensório – Motor:
do nascimento até aproximadamente dois anos, com o aparecimento da linguagem. Marcado por extraordinário desenvolvimento mental, é decisivo para a função psíquica, pois representa a conquista de todo o universo prático que cerca a criança, através da percepção e dos movimentos. Destacam-se três períodos neste estágio: o dos reflexos, o da organização das ações e hábitos e o da inteligência sensório-motora propriamente dita.
A consciência começa por um egocentrismo inconsciente e integral, onde os pensamentos são marcados pela intuição, até que os progressos da inteligência sensório-motora levem à construção de um universo objetivo, onde o próprio corpo aparece como elemento entre outros, e ao qual se opõe a vida interior, localizada dentro do corpo.

2º Estágio: Pré-Operatório: do aparecimento da linguagem até aproximadamente sete anos, surgimento da função simbólica e intuitiva, com representações da realidade.
Graças à linguagem, a criança é capaz de reconstruir suas ações passadas em forma de narrativa e de antecipar suas ações futuras pela representação verbal. É o início da socialização da ação, a aparição do pensamento propriamente dito e a interiorização da ação como tal, podendo reconstituir a ação no plano intuitivo das imagens e das experiências verbais.
Até aproximadamente sete anos a criança permanece pré-lógica e suplementa a lógica pelo mecanismo da intuição, é uma simples interiorização das percepções e dos movimentos sob forma de imagens representativas e de “experiências mentais” que prolongam, assim, os esquemas senso-motores sem coordenação propriamente racional.

3º Estágio: Operatório- Concreto: aproximadamente dos sete aos doze anos, marca uma modificação decisiva no desenvolvimento mental. Observa-se o aparecimento de formas de organização novas, que completam as construções esboçadas no decorrer do período precedente, assegurando-lhes um equilíbrio mais estável e que inauguram uma série ininterrupta de novas construções.
Torna-se capaz de cooperar porque não confunde mais seu próprio ponto de vista com o dos outros, dissociando-os para coordená-los. A linguagem “egocêntrica” desaparece quase totalmente e os propósitos espontâneos da criança testemunham, pela própria estrutura gramatical, a necessidade de conexão entre as idéias e de justificação lógica.
A criança se torna suscetível a um começo de reflexão. Em vez de condutas impulsivas da primeira infância, acompanhada da crença imediata e do egocentrismo intelectual, a criança, a partir dos sete ou oito anos, pensa antes de agir, começando, assim, a conquista do processo de reflexão. Para a inteligência, trata-se do início da construção lógica, que constitui o sistema de relações que permite a coordenação dos pontos de vista entre si.

4º Estágio: Operatório-Formal: é a fase da adolescência, que começa aproximadamente aos 11 ou 12 anos. Estabelece relações entre as teorias, produzindo nelas transformações. As construções operatório-formais obedecem a uma teoria de relações entre si, criando um mundo de possibilidades que permitem trabalhar com o pensamento hipotético-dedutivo. Marca o término das operações construídas durante a segunda infância, pois é passagem do pensamento concreto para o formal, ou seja, para o hipotético-dedutivo, isto é, é capaz de deduzir conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observação real.
As operações formais consistem em destacar e libertar o pensamento do real, permitindo-lhe construir a seu modo as reflexões e teorias, marcando, então, a libertação do pensamento, à livre atividade de reflexão espontânea
Há um egocentrismo intelectual do adolescente, comparável tanto ao lactente, como ao da primeira infância. Manifesta-se pela crença da onipotência da reflexão, onde o eu é forte o bastante para reconstruir o Universo e suficientemente grande para incorporá-lo. O equilíbrio é atingido quando a reflexão compreende que sua função não é contradizer, mas se adiantar e interpretar a experiência, ultrapassando o equilíbrio do pensamento concreto, pois além do mundo real engloba as construções indefinidas da dedução racional e da vida interior.
O importante ao estudarmos estes estágios é podermos constatar em que estágios nossos alunos estão. Muitas vezes não sabemos porque uma criança não consegue aprender determinados conceitos, mas estudando estes estágios vemos que muitas vezes os alunos ainda não conseguem dominar certas noções pois ainda não atingiram a maturidade cognitiva suficiente.

REFERÊNCIAS:
MARQUES, Tânia B. I, Epistemologia Genética e Construção do Conhecimento

PIAGET, Jean. O Desenvolvimento Mental da Criança. In: Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense, 1986.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

EU E OS OUTROS
Como Eu me vejo:

Eu me vejo como uma pessoa fisicamente “fofinha”, pois sempre tive que lutar contra a balança. De estatura baixa, cabelos muito crespos, dos quais nunca gostei muito. Tenho os olhos verdes “garrafa”, que é uma parte do meu corpo que acho bonito. Gosto muito do meu sorriso, pois meus dentes sempre foram muito parelhos e bem cuidados. Nesta foto do Natal estou um pouco abatida porque havia retirado um tumor e estava começando a quimioterapia, mas foi um momento muito importante.
Na personalidade sou muito teimosa, nunca gostei de dar o braço a torcer e confessar minhas fraquezas. Sempre fui muito brigona no sentido de lutar pelo que acho certo. Quando tenho certeza do meu ponto de vista, bato pé até o fim para defender minhas idéias. Talvez estes traços da minha personalidade estejam me ajudando a vencer o câncer.
Também sou uma pessoa muito espiritualizada, por isto tenho muita fé em Deus, em mim e na vida. A vida me ensinou a ser mais tolerante, compreensiva e amiga, por isto procuro ajudar as pessoas, seja com atos concretos ou apenas ouvindo. Também sou muito carinhosa, gosto de abraçar e de trocar afeto, assim como dar presentes.

Como as outras Pessoas Me Vêem:

Sei que as pessoas sempre me viram como uma pessoa batalhadora, trabalhadeira e esforçada, que sempre procurou viver de acordo com o que pensa e prega. Meus filhos sempre me chamam de “guerreira” e isto me dá um orgulho muito grande, poder transmitir a eles que não dá para desanimar, nunca se entregar. Sempre tive fama de baixinha “invocada”.
Agora com minha doença tive surpresas muito boas, pois vi o que as pessoas pensam de mim e confesso que me surpreendi. Por nunca me deixar abater as pessoas têm me tomado como exemplo de vida, buscando força e consolo em mim para seus problemas. Semana passada minhas colegas ainda falaram para outra colega que se aposentou o quanto eu sou forte, o quanto luto para vencer os problemas, não deixo de trabalhar nem sou manhosa. Se tudo isto é positivo e me deixa orgulhosa, às vezes ser forte demais tem sua fragilidade, pois as pessoas esperam que tu estejas sempre bem, ficam nervosas se vêem que alguma vez estás enjoada ou desanimada.
O Dilema do Antropólogo

Acredito que a posição do antropólogo, em primeira instância, foi correta. Como estava chegando à ilha não queria interferir na cultura local e por isto omitiu um fato. Como princípio moral, resolveu não mudar o ponto de vista dos nativos e agir de acordo com seus costumes, até para não influenciar aquela cultura com seus próprios valores.
No entanto, à medida que o tempo passou e o antropólogo se familiarizou com os costumes do povo, deveria ter esclarecido os questionamentos dos nativos, orientando-os que os homens brancos são humanos como eles e poderiam se beneficiar de suas crenças.
Refletindo sobre os princípios morais é preciso pensar que não temos o direito de interferir numa cultura já estabelecida, mas a ética nos diz para não mentirmos nunca. O que fazer? Procurar agir de acordo com os princípios que nos norteiam, sem, no entanto, enganar as pessoas de maneira a prejudicá-las. É um julgamento íntimo e pessoal muito difícil, mas que precisa estar presente nas mais diversas situações da nossa vida.
Para concluir, em primeira instância penso que o antropólogo agiu certo, mas à medida que se familiarizou com aquele povo deveria ter mostrado a realidade, orientando-os que os homens brancos são homens normais, como forma de protegê-los do domínio destes mesmos homens. Se ele agiu com a ética de não interferir no primeiro momento, assim que se familiarizou com aquele povo deveria ter agido de acordo com o princípio moral de que não podemos prejudicar nossos semelhantes, ocultando fatos que possam levá-los a serem dominados e subjugados por outros.
Minha Aprendizagem mais marcante
Quando eu tinha 10 anos eu iria fazer a Primeira Comunhão no dia 8 de outubro. Como presente pedi minha tão sonhada bicicleta. Todo mundo tinha bicicleta, meus irmãos tinham bicicletas de cano alto e eu, muito miúda, não conseguia andar, nem sequer subir nelas. Sentia-me um pouco excluída da turma, pois quando iam dar voltas de bicicleta, eu tinha que ficar em casa.
Como todo mundo já sabia que eu ganharia uma bicicleta, todos os meus amigos e meus irmãos queriam me ensinar a andar. Tentaram me ensinar nas bicicletas dos meus irmãos, na Monareta de trava de mão da minha amiga Lana, numa bicicleta um pouco maior do amigo Marcelo e eu não conseguia aprender. Não tinha equilíbrio, não conseguia ficar com a bicicleta em pé, não coordenava na hora de frear. Tentaram mudar o lugar da aprendizagem, levaram-me para uma praça, para o pátio da igreja, para a nossa rua que era uma decida, mas mesmo assim não consegui aprender, parecia que jamais aprenderia, que estava bloqueada em meu cérebro esta habilidade, além do medo de cair e me machucar e o medo ainda maior de fazer fiasco na frente da turma. Aquele assunto virou um martírio, além dos meus irmãos debocharem de mim.
Chegou o dia da minha Primeira Comunhão, vieram todos os meus parentes para a missa e para o churrasco. Ganhei a famosa bicicleta: uma Monareta cor de laranja com trava de pé, linda, a minha cara, pois sempre gostei de cores fortes. O maior problema foi não saber andar. Nos dias seguintes todo mundo queria experimentar o meu presente, dar uma voltinha, só eu não conseguia. Todos tentavam à exaustão me ensinar a andar, até minha mãe largou a costura por alguns minutos para tentar, mas foi inútil, não consegui de jeito nenhum.
Um dia, na hora do almoço, comi rápido e resolvi sair empurrando minha bicicleta, como se alguma coisa me mandasse ousar. Como estavam todos almoçando não tinha ninguém na rua, era um verdadeiro deserto. Subi na bicicleta e sai andando pela rua, como se fizesse isto há anos. No início dei uma desequilibrada, mas quando todos chegaram (ouvindo meus gritos) eu já andava na maior segurança. Só custei um pouco a aprender frear com o pé, então jogava a bicicleta (e eu) sobre os arbustos das calçadas. Tenho minha Monareta até hoje, como espécie de troféu.
Acredito que esta aprendizagem se deu de maneira tão inusitada porque sempre tive pavor de fracassar, de mostrar minhas deficiências e meus medos. De alguma maneira, naquele dia que sai sozinha estava determinada a conseguir o que parecia impossível. Alguma coisa no meu cérebro me dizia que era a hora de fazer aquilo sozinha, sem interferência de ninguém. É verdade que os conhecimentos que todos os meus “professores” me transmitiram já estavam gravados em minha mente, já sabia como a bicicleta funciona, como fazer para andar e travar, como me equilibrar, eu só não conseguia executá-los. O que aprendi de novo foi a coragem de ousar, a determinação de colocar em prática, sozinha, tudo o que havia aprendido. Talvez naquele dia minhas condições mentais estivessem mais apropriadas para processar as informações, uni-las à minha coragem momentânea e colocar em prática todo conhecimento que havia adquirido. Talvez precisasse de um tempo determinado para construir um jeito próprio de andar de bicicleta. Só sei que este fato ficou muito marcado em minha mente, até porque todo mundo comentava que não conseguiu me ensinar, que aprendi sozinha. Penso que foi um conjunto de situações que me levaram a construir esta aprendizagem.

sábado, 18 de abril de 2009

AVALIA^ÇÃO DO GRUPO PERSONALIDADE
Leila Maria Linck Wasum

A pergunta inicial deste grupo é “COMO A FAMÍLIA E A ESCOLA INFLUENCIAM NA PERSONALIDADE DA CRIANÇA?” O grupo manteve a coerência do questionamento inicial com as certezas e dúvidas, porque tem a certeza de que nossa personalidade recebe influências do meio, mas questiona o porquê de pessoas criadas no mesmo ambiente, com as mesmas influências, terem personalidades tão diferentes. Procuram manter esta linha de raciocínio durante todo o trabalho. Durante o andamento do trabalho o grupo retoma constantemente estas certezas e dúvidas, pois através das pesquisas verificam que cada pessoa tem sua própria personalidade, que é única, influenciada pelo fator genético e pelo meio em que vive.
Os procedimentos de coletas de informações usados pelo grupo não ficam muito claros, alguns endereços da internet são usados, outros materiais não tem as referências bibliográficas. Já o mapa conceitual do grupo está bem claro, enfatizando a sociabilidade como fator importante na formação da personalidade.
O texto apresentado no final do projeto é uma síntese que mostra a interpretação da pergunta do grupo e das conclusões realizadas ao longo do projeto, porque procura expor a idéia principal, desenvolvendo as dúvidas e certezas e mostrando como a família e a escola influenciam nossa personalidade. Assim também, neste texto o grupo retoma os conceitos de modo crítico quando fala que como sujeitos sociais necessitamos de relacionamentos, de fazermos parte de um grupo, de referências para percebermos o mundo que nos cerca e assim construirmos nossa personalidade.
O conceito mais importante neste projeto é perceber que nossa personalidade é formada por fatores genéticos, que já nascem com o indivíduo, mas que também recebemos influência do meio. Sendo assim, precisamos ficar atentos a que tipo de influências passamos a nossas crianças, de que maneira marcaremos sua personalidade, tanto na família como na escola. É uma responsabilidade astronômica, principalmente se quisermos marcá-las através do nosso exemplo de vida, da maneira como encaramos os desafios e os problemas, assim como transmitimos a nossa afetividade.

domingo, 12 de abril de 2009

DOSSIÊ DA INCLUSÃO – Leila Wasum



Minha Experiência Pessoal:

Nasci em 1962 e quando eu tinha um ano e quatro meses minha mãe deu à luz minha irmã caçula. Com um parto muito difícil, faltou oxigenação ao cérebro de minha irmã e a Denise tinha um problema mental, o que os médicos diziam ser um pequeno retardamento. Como ela era muito comunicativa e expansiva, todos perguntavam se era eu quem era a criança “excepcional”, pois sempre fui tímida e retraída.
Desde muito cedo tive que aprender que ela necessitava de mais cuidados do que eu, que não poderia fazer algumas coisas que me eram exigidas. Foi muito difícil, tinha ciúmes de ela estar sempre grudada na minha mãe, não entendia porque eu tinha que ajudar nas tarefas domésticas mais do que ela. Quando ela entrou na escola, também foi difícil entender que ela não teria o mesmo desenvolvimento e as mesmas exigências que eu e meus irmãos.
Meus pais sempre foram muito conscientes e participativos e logo entenderam e aceitaram que ela precisa de cuidados especiais e que não tinha o mesmo ritmo de amadurecimento que nós. Mesmo enfrentando muitos preconceitos colocaram a Denise na APAE e na Escola Especial com a finalidade de ajudá-la e tentar fazer com que se sentisse mais “incluída”. Aprendi a conviver com aquelas crianças, pois sempre levava e buscava a Denise e frequentava as atividades que envolvessem a família. No entanto, sempre era doloroso aceitar aquela situação, pensar que minha irmã teria dificuldades para se desenvolver e ser aceita na sociedade.
Aos doze anos a Denise começou a apresentar sintomas de uma doença degenerativa congênita na medula nervosa que atingia a coordenação motora e os músculos. Foi um período de muita dor, muitas incertezas, aos poucos ela começou a perder os movimentos das pernas e a coordenação dos braços. Só aos dezesseis anos é que foi realmente comprovada esta doença, segundo os médicos uma síndrome conhecida na Alemanha, de onde vieram nossos antepassados. Ela passou muitos anos na cama ou na cadeira de roda e nossa casa teve que sofrer adaptações para termos mobilidade com ela.
Paralelo a tudo isto entrei no Curso Normal com quinze anos e surgiu a oportunidade de fazer um curso de Voluntária para trabalhar na APAE, pensei que era o momento de entender e resgatar alguns valores que me tinham escapado, que talvez pudesse entender e aceitar toda a situação que vivíamos em casa. Após o curso e seu estágio, que terminou no fim de outubro, eu e duas colegas começamos a trabalhar teatro e música com os adolescentes da APAE. Foi muito gratificante e eles conseguiram decorar suas falas para o teatro que fizemos para a festa de Natal. No ano seguinte trabalhei como auxiliar da professora de uma turma com crianças com síndrome de Daw e uma autista, uma vez por semana. Foi um trabalho muito difícil, principalmente quando a professora faltava e eu tinha que assumir a turma. Eles eram muito inquietos e eu sempre ia para casa com algum machucado. Trabalhei todo o ano de 1978 com esta turma e depois parei de trabalhar na APAE porque tinha aula o dia todo. Sem dúvida, a experiência vivida nesta escola marcou muito minha vida, não só como professora, mas me ajudou a ser mais tolerante e carinhosa com minha irmã.
Já como professora formada fui trabalhar com alfabetização e sempre obtinha resultados satisfatórios com alunos considerados problemáticos. Por isto me tornei professora da “classe especial” da escola, com crianças com alto nível de repetência na 1ª série. Aprendi muito com eles e nas reuniões de classes especiais de todo município, com troca de experiências e relatos das colegas. Dos oito alunos consegui alfabetizar quatro, o que me deixou muito feliz.
Talvez por toda esta bagagem que eu trago, vivendo uma experiência pessoal tão profunda, é que sempre consegui bons resultados com alunos com necessidades especiais, principalmente no que diz respeito ao seu entrosamento, participação e colaboração com a turma. Também entendo muito crianças que tenham irmãos com necessidades especiais porque me coloco no lugar delas e sei o que elas sentem e o quão é difícil entender que uma pessoa da nossa família, com características parecidas com as nossas possam ser tão diferentes e precisem de nosso amor e nosso apoio.
Fazem dois anos que a Denise faleceu, mas nossa vida sempre esteve voltada para cuidá-la e fazer com que seus dias fossem os mais confortáveis e cheios de amor possíveis. Meus filhos cresceram sabendo que ela era uma pessoa que precisava de cuidados especiais, que competia e brincava com eles como se fosse da mesma idade Talvez a maior lição que ela deixou a toda família foi a união necessária nos momentos. difíceis, a alegria constante que ela tinha, a necessidade de aceitarmos o diferente e convivermos com bom humor, esperança e fé.

Minhas Reflexões – Identificando Epistemologias:

Refletindo sobre minhas respostas na atividade 7 e sobre o texto lido volto a dizer que o conhecimento é a noção que temos sobre algo. Este conhecimento é adquirido através de experiências vivenciadas no nosso cotidiano e que nos permitem construir habilidades e conceitos. Um grande exemplo é a habilidade de falar, adquirida através da observação e prática. Há também o conhecimento mais formal, transmitido e construído nos sistemas de ensino de que participamos, onde a sistematização destes saberes obedece a uma sequência pré-determinada.
Nossa aprendizagem ocorre nas nossas vivências diárias, através de experiências que nos tenham algum significado e que nos acrescentem algum valor físico, afetivo ou social, normalmente aprimorando alguma habilidade já adquirida. Sendo assim, aprender é um ato constante e indispensável para o desenvolvimento do ser humano e para sua sobrevivência como espécie. Há também o conhecimento formal, adquirido nos sistemas de ensino, principalmente a escola. Este conhecimento é mais sistematizado, organizado de acordo com os níveis de desenvolvimento do aluno.
Refletindo sobre minhas respostas anteriores e sobre o texto sugerido e sobre toda a situação atual do sistema estadual de ensino, a que pertenço, é impossível não ter muitas dúvidas e angústias. Como coloquei anteriormente, considero que o ensino na escola deve ser sistematizado e organizado de acordo com os diferentes níveis de desenvolvimento, contemplando conteúdos que devem aliar-se aos conhecimentos e vivências que os alunos já trazem, a fim de construírem um conhecimento significativo, capaz de desenvolver o senso crítico e o raciocínio.
Dentro desta perspectiva procuro partir dos conhecimentos que os alunos já têm e de materiais de que disponho, como figuras, filmes, cartazes,etc, sempre iniciando com um diálogo sobre o que eles já sabem, o que nos dias de inclusão digital, às vezes é muito. Assim também, preocupo-me com a construção de uma cidadania consciente, fazendo-os refletir sobre a realidade, sendo co-autores da socialização da turma. Desta maneira, eles criam as regras de convivência da turma, escolhem a responsabilidade que vão assumir no mês (cuidar da caixa de livros, cuidar da fila, limpar o quadro,etc) e uma vez por mês fazemos uma Assembléia de Alunos, onde cada um fala como atuou na sua responsabilidade e o que precisa melhorar, então é feito o rodízio de responsabilidades por mais um mês. Assim também, a maioria das decisões que envolvem a turma são tomadas através de votações.
Apesar de todos estes esforços não tenho a ilusão de dizer que todo conhecimento é construído pelos alunos, ou que minha sala de aula é uma democracia ampla e irrestrita. Procuro sempre trocar experiências e conhecimentos com meus alunos, mas ainda não descobri uma fórmula que permita construir sempre e vencer todo o Plano de Curso. A cada dia que passa nós, os professores da rede estadual, sentimos que a gestão democrática e a construção do conhecimento estão sob a ameaça das avaliações externas, que priorizam conteúdos mínimos e que ditam as verbas destinadas a cada escola. Atualmente há uma certa neurose com índices e avaliações, que têm seu lado positivo por tentarem tornar a educação brasileira mais uniforme. Em contrapartida, engessam alternativas mais construtivas, cobrando resultados das direções e dos professores, que precisam adequar o trabalho com os alunos de acordo com os modelos estabelecidos em localidades completamente diferentes da nossa.
Hoje em dia, mais do que aprender o que o aluno já construiu, é necessário que o professor também aprenda como fazê-lo ter desempenho satisfatório nas avaliações externas, sob pena de ser acusado de incompetente e de perder verbas importantes. Queremos um cidadão participativo, consciente de seus direitos e deveres, capaz de tomar decisões e fazer escolhas, mas ao mesmo tempo não podemos abrir mão de verbas necessárias num sistema já sucateado e dos mecanismos para conquistá-las.