terça-feira, 2 de novembro de 2010



Reflexão do Eixo VII
7º Semestre - PEAD/UFRGS

Segundo estudos realizados neste semestre constatei que a EJA tem a importante função social de resgatar a oportunidade de estudar e participar do mundo letrado dos cidadãos que tiveram que abandonar a escola por diversas razões e dela foram excluídos, garantindo o direito a uma educação de qualidade. Este também é um desafio de ordem política, visto que almeja ampliar os ganhos de consciência dos grupos populares ao refletir sobre sua realidade e seu mundo. Como disse Freire (1983, pg42) o pedagógico é indissociável do político, visto que o ser humano é sujeito de suas ações e não simples objeto ou depósito de informações. Sendo assim o processo de aprendizagem deve ser dinâmico e ativo motivando esses educandos a apropriarem-se da leitura e escrita, fazendo uso social do mundo letrado para terem melhor qualidade de vida.
Para que estes alunos apropriem-se verdadeiramente do saber transmitido e construído na escola é preciso que a mesma considere o saber intelectual dos adultos não escolarizados, sua maneira de ler o mundo, pois operam cognitivamente e têm seu grau de letramento, possuindo etapas de desenvolvimento intelectual como as crianças. Como disse Oliveira “...todo conhecimento e igualmente valioso, toda visão de mundo é legítima, todo conteúdo é importante.” ( pg. 64). Sendo assim, para que esses alunos encontrem motivação e sentido em frequentar a EJA é necessário uma metodologia que contemple os saberes já instalados, que explore o grau de letramento que eles já possuem. Através deste processo estarão percebendo e apropriando-se da construção social do código escrito, reconhecendo as propriedades do mundo letrado e percebendo as relações sociais do mesmo.
Nesse contexto é importante mencionar que a escola é um local de confronto de culturas, onde cada educando leva sua experiência pessoal, sua maneira de ver o mundo e com ele interagir, apresentando maneiras diferentes de construir seu conhecimento e suas relações com a comunidade, visto que pertencem a diferentes grupos sociais. Conforme Oliveira (1999), é também um encontro de singularidades, visto que é um lugar onde as pessoas interagem, trocam experiências, aprendem a conviver com o diferente, construindo relações que propiciam a leitura do mundo, aproximando-os criticamente da realidade. Neste sentido a EJA precisa de uma pedagogia diferenciada, que contemple todas estas peculiaridades e que procure dar oportunidades iguais a todos os educandos.
Vimos na disciplina de Linguagem e Educação que atualmente convivemos com o mundo da escrita constantemente, em todos os lugares, pois vivemos numa sociedade que pratica a leitura, a escrita e a oralidade em todos os momentos de convivência social, como forma de comunicação e informação. Sendo assim, o processo de aquisição da leitura e da escrita deve contemplar e promover a interação com a contextualização do mesmo objetivando a capacidade de interpretar e interagir as diversas formas de escrita e leitura que encontramos no cotidiano.
Dentro desse contexto percebemos que “A análise de artefatos e práticas que compõe o nosso mundo letrado exige que examinemos os diversos discursos que os constituem, discutindo os efeitos desses discursos e suas representações.” (TRINDADE, 2005, pg. 6). Logo, é necessário que a escola se aproprie das diversas formas de leitura e escrita existentes na sociedade, para que consiga imprimir maior significado real ao processo de alfabetização e letramento. Oportunizamos ao educando fazer uma leitura da realidade, para que ocorra maior associação entre o processo de pensar e de atuar, ou seja, unir a teoria e a prática diária na construção do conhecimento e apropriação da leitura e escrita.
Citando Paulo Freire (vídeo “A construção da leitura e da escrita do adulto na perspectiva freireana) “Ninguém começa lendo a palavra começa lendo o mundo.”, Assim, é necessário que o educando encontre significado na sua prática de construção do conhecimento, associando seu aprendizado na escola com elementos da sua vivência cotidiana. Dessa maneira, utilizar as diversas formas de escrita encontradas no mundo social auxilia o educando a resignificar a prática pedagógica de apropriação da leitura e escrita, aproximando-o criticamente da realidade, visto que a escola também faz parte desta mesma sociedade e não está a parte dela.
Refletindo sobre as leituras feitas na disciplina de Didática e Planejamento e pensando nos nossos planejamentos diários é cada vez mais certo afirmar que o planejamento é fundamental para que nossa prática pedagógica seja coerente e repleta de significado, observando passos fundamentais para que o trabalho seja frutífero, com troca de experiências e conhecimento, proporcionando um crescimento tanto para o professor como para os alunos. Nesse contexto, afirmo com certeza que o professor que não planeja suas aulas perde em qualidade, em construção de saberes e em responsabilidade, principalmente trabalhando com alunos maiores, pré-adolescentes, que percebem quando o professor está perdido, ganhando tempo ou “enrolando”.
Trabalhando na rede estadual, como é o meu caso, não temos nenhum momento dentro do horário de trabalho específico para planejamento ou correção. Todo esse trabalho fazemos em casa ou durante a aula, enquanto os alunos trabalham. Isto compromete um pouco o trabalho, sendo motivo para muitos colegas menos comprometidos não apresentarem planejamento e comprometerem a seriedade do seu trabalho. Qualificamos a educação simplesmente por sabermos o valor de nosso trabalho e o compromisso social de construirmos uma educação de qualidade, que possibilite uma formação integral ao educando, permitindo-lhe uma participação consciente e crítica na sua comunidade.
Através dos textos lidos na disciplina de Libras, verifiquei que a luta da comunidade surda por reconhecimento e igualdade de oportunidades é muito mais antiga e legítima que poderia imaginar. As pessoas surdas sempre lutaram por seus direitos, principalmente por uma educação que contemplasse uma forma diferenciada de comunicação. Nesse contexto sempre lutaram por legitimar a língua de sinais como uma forma própria e capaz de linguagem, com características próprias, diferenciada da forma de comunicação dos ouvintes, mas tão importante quanto.
Li em RAMOS (Rio de Janeiro, s.d.) que no Brasil a língua de sinais só foi incentivada por que Dom Pedro II tinha um neto surdo e por isto incentivou a educação de crianças surdas. Seja como for, esta parcela significativa da população tem o direito de ter uma educação diferenciada que contemple todas as especificidades de sua realidade e proporcione um crescimento pessoal e social legítimos, capazes de torná-los cidadãos participativos, críticos e atuantes.
O que considero mais significativo na cultura surda é a vontade de se comunicar, fazer-se entendido e reconhecido como um indivíduo capaz e autônomo, mas com suas peculiaridades. Considero também imensamente significativa toda organização das comunidades surdas, com suas entidades e escolas, assim como sua afirmação que devem estudar em escolas para surdos. Neste aspecto, considero muito realista e positiva sua posição, pois sabemos por experiência de muitos anos que a inclusão de pessoas com alguma necessidade especial ou formação especial do professor não acontece de maneira tão íntegra e maravilhosa como as leis designam, principalmente na escola pública.
No Seminário Integrador tivemos a oportunidade de fazer uma análise mais crítica do Portfólio de Aprendizagens de uma colega de outro pólo, assim como nosso próprio portfólio, analisamos a pontualidade das postagens, sua qualidade e a relação da teoria com a prática. Considero muito difícil analisar outras colegas, mas foi possível fazer uma reflexão do trabalho de outra colega e do meu próprio trabalho.