segunda-feira, 20 de abril de 2009

Minha Aprendizagem mais marcante
Quando eu tinha 10 anos eu iria fazer a Primeira Comunhão no dia 8 de outubro. Como presente pedi minha tão sonhada bicicleta. Todo mundo tinha bicicleta, meus irmãos tinham bicicletas de cano alto e eu, muito miúda, não conseguia andar, nem sequer subir nelas. Sentia-me um pouco excluída da turma, pois quando iam dar voltas de bicicleta, eu tinha que ficar em casa.
Como todo mundo já sabia que eu ganharia uma bicicleta, todos os meus amigos e meus irmãos queriam me ensinar a andar. Tentaram me ensinar nas bicicletas dos meus irmãos, na Monareta de trava de mão da minha amiga Lana, numa bicicleta um pouco maior do amigo Marcelo e eu não conseguia aprender. Não tinha equilíbrio, não conseguia ficar com a bicicleta em pé, não coordenava na hora de frear. Tentaram mudar o lugar da aprendizagem, levaram-me para uma praça, para o pátio da igreja, para a nossa rua que era uma decida, mas mesmo assim não consegui aprender, parecia que jamais aprenderia, que estava bloqueada em meu cérebro esta habilidade, além do medo de cair e me machucar e o medo ainda maior de fazer fiasco na frente da turma. Aquele assunto virou um martírio, além dos meus irmãos debocharem de mim.
Chegou o dia da minha Primeira Comunhão, vieram todos os meus parentes para a missa e para o churrasco. Ganhei a famosa bicicleta: uma Monareta cor de laranja com trava de pé, linda, a minha cara, pois sempre gostei de cores fortes. O maior problema foi não saber andar. Nos dias seguintes todo mundo queria experimentar o meu presente, dar uma voltinha, só eu não conseguia. Todos tentavam à exaustão me ensinar a andar, até minha mãe largou a costura por alguns minutos para tentar, mas foi inútil, não consegui de jeito nenhum.
Um dia, na hora do almoço, comi rápido e resolvi sair empurrando minha bicicleta, como se alguma coisa me mandasse ousar. Como estavam todos almoçando não tinha ninguém na rua, era um verdadeiro deserto. Subi na bicicleta e sai andando pela rua, como se fizesse isto há anos. No início dei uma desequilibrada, mas quando todos chegaram (ouvindo meus gritos) eu já andava na maior segurança. Só custei um pouco a aprender frear com o pé, então jogava a bicicleta (e eu) sobre os arbustos das calçadas. Tenho minha Monareta até hoje, como espécie de troféu.
Acredito que esta aprendizagem se deu de maneira tão inusitada porque sempre tive pavor de fracassar, de mostrar minhas deficiências e meus medos. De alguma maneira, naquele dia que sai sozinha estava determinada a conseguir o que parecia impossível. Alguma coisa no meu cérebro me dizia que era a hora de fazer aquilo sozinha, sem interferência de ninguém. É verdade que os conhecimentos que todos os meus “professores” me transmitiram já estavam gravados em minha mente, já sabia como a bicicleta funciona, como fazer para andar e travar, como me equilibrar, eu só não conseguia executá-los. O que aprendi de novo foi a coragem de ousar, a determinação de colocar em prática, sozinha, tudo o que havia aprendido. Talvez naquele dia minhas condições mentais estivessem mais apropriadas para processar as informações, uni-las à minha coragem momentânea e colocar em prática todo conhecimento que havia adquirido. Talvez precisasse de um tempo determinado para construir um jeito próprio de andar de bicicleta. Só sei que este fato ficou muito marcado em minha mente, até porque todo mundo comentava que não conseguiu me ensinar, que aprendi sozinha. Penso que foi um conjunto de situações que me levaram a construir esta aprendizagem.

Um comentário:

Unknown disse...

Leila: que bela experiência de aprendizagem apresentaste. Mostraste como não adianta alguém ensinar, embora o ensino também seja importante, quando o indivíduo ainda não tem condições para aprender. Um abraço. Profª Tania Marques